sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Candidato adestrado

As articulações políticas que antecedem as campanhas eleitorais normalmente esperam pelo deitar das cinzas da quarta-feira que sucede o carnaval.

Durante toda a quaresma, com o recato que exige a tradição cristã, teríamos as articulações, consultas e seleção de nomes.
A escolha, prévia e inicial, de candidatos só com a Páscoa, depois das malhações dos Judas.
E, em junho, já com o ruflar dos tambores e o toar das cantigas do bumba meu boi, as convenções, a formalização e o anúncio, finalmente, dos candidatos.
Este ano, contudo, todo o calendário foi atropelado. E, o que surpreende, mais pela pressa dos que detém o poder e, pelo visto, não querem perdê-lo, do que pela inquietação dos novos postulantes.
Para ilustrar, basta comparar a sofreguidão do presidente Luis Inácio Lula da Silva, com sua ministra-candidata Dilma Roussef a tiracolo em explícita campanha eleitoral, ao verdadeiro esconde-esconde a que José Serra, Ciro Gomes e Marina da Silva se dedicam (ou foram como que condenados), receosos que estariam da parcialidade crescente dos tribunais.
Serra, se escondendo por entre as atribulações e atribuições do cargo de governador de São Paulo; Ciro Gomes, fugindo do assédio de Lula e do PT (que tentam desconstruir sua candidatura) como o diabo foge da cruz; e Marina, por fim a doce Marina, tecendo sua candidatura com a determinação das formigas e a leveza dos colibris.
Se tal descompasso - entre o Planalto e candidatura oficial , acelerados, e os demais possíveis candidatos como que dando o tempo ao tempo - já é notável e surpreendente, torna-se todavia inquietante o precipitado e ,muito provavelmente artificial, clima tenso e nervoso desta prematura campanha.
Insultos, bate-bocas, acusações partem muitas vezes do próprio presidente Luis Inácio Lula da Silva. Algo desproposital e até inimaginável.
Afinal trata-se de um presidente da República que, no final de seu segundo mandato, desfruta de aprovação popular e de prestígio internacional como raríssimos homens públicos no Brasil ou no Exterior.
E o mais grave é que tais sintomas (que prenunciam momentos de embates perigosos em clima de intolerância no curso das eleições presidenciais deste ano) já poderiam ser sentidos antes mesmo das eleições chilenas.
Lá a derrota do candidato da presidente muito bem avaliada parece não ter sido suficientemente entendida e processada por Lula e sua assessoria.
E no Maranhão, o quadro só tende a agravar-se.
Em nosso Estado, além de não ter sido eleita pelo voto popular, Roseana Sarney Murad (que ocupa os Leões após polêmica decisão do Tribunal Eleitoral) está longe, léguas e léguas de distancia, dos índices de aprovação da chilena Michelle Bachelet ou do presidente Lula, paulista nascido em Garanhuns, sertão pernambucano.
Com o irmão Fernando em liberdade graças a um habeas corpus preventivo e seu pai cada vez mais contestado no exercício da presidência do Senado, Roseana pagará caríssimo por ter loteado cargos e incalculáveis recursos a perigosos e inescrupulossíssimos gestores, capitaneados por certo autodidata, Ricardo Murad, Secretário - pasmem - da Saúde!
( Tempo houve em que um prefeito foi severamente criticado por nomear para o posto equivalente,na Capital ,uma DOUTORA EM SAUDE PUBLICA pelo fato de ser graduada não em medicina, mas em enfermagem.)
Os seis anos que Roseana passou pelo Senado desconstruíram impiedosamente a imagem anterior, obra de marketing político.
No Senado da República todo o seu despreparo intelectual e sua extrema fragilidade emocional foram crua e impiedosamente revelados.
Nem a liderança do governo no Congresso, cargo que ocupou sem exercer, foi suficiente para blindar sua manifesta incompetência. Como as melhores maquiagens...
Sem legitimidade e sem popularidade, Roseana chega ao fim de seu mal engendrado governo sem qualquer obra ou realização. Nada que possa apresentar aos maranhenses.
Persegue um único caminho: uma eleição sem disputa.
É que três adversários no primeiro turno, ele perde no segundo. Com um candidato só ela perde, logo, no primeiro turno.
É por isso que ela sugere oferecer ao Partido dos Trabalhadores ou ao PC do B ,Partido Comunista do Brasil,uma vaga de candidato a vice-governador ou senador, em sua lista, na chapa oficial.
Faz apenas uma exigência: que o candidato,petista ou comunista, seja devidamente adestrado pela oligarquia.
Haroldo Saboia, economista, advogado, Constituinte de 1988, escreve para o Jornal Pequeno todas as sextas-feiras. E-mail: haroldosaboia@hotmail.com

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